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Da polarização à construção de narrativas: A evolução do discurso político (2018-2024) e projeções para 2026

evolução do discurso político

Nos últimos anos, o discurso político no Brasil mudou de forma acelerada. O que começou, em 2018, como uma onda de antipolítica e forte polarização ideológica, se consolidou em 2022 como um embate direto entre dois projetos opostos de país. Já em 2024, as eleições municipais começaram a mostrar nuances, com sinais de que parte do eleitorado está mais interessada em propostas concretas do que na retórica extremada.

Agora, com 2026 no horizonte, a grande questão é: o discurso político continuará tão radicalizado ou veremos uma tentativa de moderação? O avanço da inteligência artificial na comunicação eleitoral, a crescente influência das redes sociais e os desafios econômicos serão fatores determinantes nessa dinâmica. Mas antes de prever o futuro, é essencial entender como chegamos até aqui.

Eleições de 2018: o ano da ruptura e da polarização explosiva

As eleições de 2018 foram um divisor de águas na política brasileira. A insatisfação popular com os escândalos de corrupção, intensificada pela Operação Lava Jato e pela crise econômica de 2015-2016, criou o ambiente perfeito para um candidato de perfil antissistema. Jair Bolsonaro, então deputado federal, canalizou essa revolta e se projetou como o nome capaz de “romper com tudo isso que está aí”.

Principais características do discurso político em 2018:

​•​Antipolítica e rejeição ao sistema: A narrativa de Bolsonaro girava em torno da ideia de um político outsider, que enfrentaria a corrupção e a velha política.

​•​Polarização extrema: O antipetismo dominou a campanha, tornando o embate com o PT o eixo central da eleição.

​•​Uso massivo das redes sociais: Pela primeira vez, uma candidatura presidencial no Brasil foi impulsionada quase inteiramente por redes sociais, especialmente WhatsApp e Facebook. Segundo um levantamento do Instituto Reuters, 66% dos brasileiros usavam o WhatsApp como fonte principal de notícias políticas naquele ano.

O impacto foi profundo. O Brasil entrou em uma era de polarização extrema, com a política deixando de ser apenas um debate de ideias para se tornar uma questão de identidade para muitos eleitores.

Eleições de 2022: A consolidação da polarização e a luta pelo centro

Se 2018 foi marcado pelo discurso da ruptura, 2022 trouxe um embate direto entre Bolsonaro e Lula. O ex-presidente petista voltou ao jogo político após a anulação de suas condenações, e a disputa se transformou em um plebiscito entre dois modelos de país.

Destaques do discurso político em 2022:

​•​Bolsonaro e a defesa do seu governo: O ex-presidente apostou na continuidade de sua agenda, destacando a economia, a pauta conservadora e o combate ao “sistema”.

​•​Lula e o discurso da reconstrução: O petista apresentou sua candidatura como uma oportunidade de restaurar a democracia e a estabilidade econômica.

​•​A influência das fake news: O TSE registrou um aumento de 1.671% na disseminação de notícias falsas em relação a 2018, tornando a desinformação um fator central na disputa.

​•​Tentativas de moderação: Ambos os candidatos fizeram acenos ao centro, cientes de que os eleitores indecisos poderiam ser o fiel da balança.

O resultado foi um dos mais apertados da história: Lula venceu com 50,9% dos votos contra 49,1% de Bolsonaro. O pós-eleição também foi conturbado, com protestos bolsonaristas e uma tentativa de contestação do resultado.

Eleições municipais de 2024: O primeiro sinal de mudança?

As eleições municipais de 2024 trouxeram alguns indícios de mudança no comportamento do eleitorado. Embora a polarização ainda esteja presente, a ênfase em temas práticos, como economia e segurança pública, começou a ganhar mais força do que a retórica ideológica pura.

Principais tendências observadas:

​•​Menos radicalização, mais pragmatismo: Em muitas cidades, candidatos focaram mais em propostas concretas do que em discursos de confronto.

​•​Fragmentação política: Nem a direita nem a esquerda dominaram completamente o cenário, indicando que o eleitorado está mais disperso.

​•​Cobrança por resultados: Com a crise econômica e a inflação impactando o dia a dia da população, promessas genéricas perderam força frente a propostas mais realistas.

Se essa tendência continuar, 2026 poderá ter um tom diferente das eleições anteriores, com um eleitor mais exigente e menos propenso a aderir cegamente a discursos extremistas.

Discurso político desconexo
Do embate ideológico às propostas concretas: o discurso político brasileiro está mudando?

Projeções para 2026: O que esperar do discurso político?

Com base nos dados e nas tendências observadas, podemos antecipar alguns elementos que devem definir o debate eleitoral em 2026.

1. A polarização ainda será forte, mas com ajustes

A divisão entre direita e esquerda continua sendo uma marca da política brasileira, mas candidatos poderão adotar uma retórica menos agressiva para atrair eleitores cansados do clima de guerra política.

2. Economia: o grande campo de batalha

O desempenho econômico será um fator decisivo. O Brasil enfrenta desafios como inflação alta, endividamento público e estagnação do crescimento. Candidatos liberais devem defender cortes de gastos e maior participação do setor privado, enquanto candidatos progressistas devem apostar em investimentos sociais e no fortalecimento do Estado.

3. O papel das redes sociais e da inteligência artificial

As eleições de 2026 podem ser as mais digitais da história do Brasil. O uso de inteligência artificial para criar vídeos, áudios e textos personalizados pode revolucionar as campanhas, tornando ainda mais difícil distinguir o que é real do que é fabricado. O combate às fake news será um desafio crítico.

4. Segurança pública como prioridade

O aumento da criminalidade e a atuação das facções criminosas devem colocar a segurança pública no centro do debate. O dilema será entre políticas de endurecimento das leis e abordagens focadas na prevenção e inclusão social.

5. A pauta ambiental como diferencial

Com o Brasil no centro das discussões sobre mudanças climáticas, candidatos precisarão apresentar políticas ambientais viáveis. O combate ao desmatamento, a transição energética e o desenvolvimento sustentável podem ganhar destaque, especialmente entre os eleitores mais jovens.

O que muda e o que permanece?

O cenário político de 2026 deve manter a polarização como um fator central, mas com nuances importantes. Há sinais de que o eleitor está mais atento às propostas e menos disposto a seguir discursos meramente ideológicos.

O grande desafio para os candidatos será equilibrar mobilização ideológica com credibilidade e soluções reais para os problemas do país. Para os eleitores, o desafio será filtrar o excesso de informação e desinformação, buscando propostas que realmente façam sentido para o futuro do Brasil.

Se 2026 será um divisor de águas ou mais um capítulo da polarização extrema, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: a forma como os políticos se comunicam continuará evoluindo, e a tecnologia terá um papel crucial nessa transformação.


Gabriela Donato

Gabriela Donato
Bacharel em Direito e jornalista, com atuação em Direito Eleitoral e Constitucional.

Pesquisadora na área eleitoral e comunicação política.

Experiência na análise e comunicação de temas jurídicos e políticos, unindo conhecimento técnico e linguagem acessível para contribuir com o debate público e a compreensão do funcionamento do sistema eleitoral e das normas constitucionais no Brasil.

Instagram: gabrielabdonato_

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