Você já deve ter ouvido que “as pessoas só acreditam no que querem”. Em uma campanha eleitoral, isso não é apenas um ditado popular — é uma das forças mais poderosas do jogo político. Estamos falando do viés da confirmação, um mecanismo psicológico que pode fazer com que o eleitor ignore dados, fatos e até verdades visíveis, desde que algo “só confirme o que ele já acredita”.
A bolha onde todo político precisa entrar para vencer
E se você é político, consultor ou estrategista, precisa entender como esse fenômeno influencia diretamente suas decisões de campanha, seu conteúdo e até o engajamento com seus públicos.
Vamos destrinchar isso juntos.

O que é o viés da confirmação?
O viés da confirmação é um atalho mental. Nosso cérebro, em vez de analisar todos os lados de uma questão de forma imparcial, prefere confirmar aquilo em que já acreditamos. Buscamos informações, argumentos e até “provas” que reforcem nossas crenças, enquanto rejeitamos ou desvalorizamos tudo o que contraria nossa visão de mundo.
É como se, em vez de investigar a verdade, o eleitor estivesse apenas reforçando suas certezas.
No marketing político, isso pode transformar completamente o modo como uma campanha se comunica com diferentes grupos de eleitores.
Por que isso importa tanto nas campanhas?
Porque o eleitor médio não está buscando se informar — ele está buscando se confirmar.
E, nessa lógica, a comunicação política precisa ser menos sobre convencer e mais sobre conectar.
Veja alguns efeitos práticos desse viés em uma campanha eleitoral:
- Um eleitor que acredita que “todo político é corrupto” vai ignorar boas propostas e bons resultados.
- Um apoiador fiel vai reinterpretar até mesmo erros do seu candidato como parte de uma narrativa de perseguição.
- Notícias falsas que confirmam o sentimento do público tendem a ter mais alcance do que esclarecimentos com base em dados.
Ou seja: emoção > razão. Sempre.
Estratégias políticas que funcionam com o viés da confirmação
Em vez de lutar contra o viés da confirmação, campanhas inteligentes aprendem a navegar nele. Aqui vão algumas estratégias práticas:
1. Construa a narrativa em torno do que o público já acredita
Se seu eleitor já valoriza a família, o trabalho ou a religião, seu discurso deve se apoiar nesses pilares. Não se trata de manipular, mas de conectar discurso e identidade.
2. Refaça os argumentos, mas não desafie a crença de frente
Confrontar diretamente o que o eleitor acredita é perder tempo. Em vez disso, mostre histórias vividas, exemplos próximos, casos reais que façam ele enxergar por outro ângulo, mas com familiaridade.
3. Use influenciadores de confiança daquele grupo
O eleitor resiste ao “estranho”, mas confia na opinião de alguém “do seu grupo”. Isso vale tanto para influenciadores digitais quanto para lideranças locais e comunitárias.

Bolhas informacionais: o palco perfeito para o viés da confirmação
As redes sociais intensificaram esse viés. Hoje, cada eleitor vive em uma bolha informacional que reforça suas crenças todos os dias — o que vê, o que compartilha, o que comenta. O algoritmo só mostra mais do que ele já acredita.
Para a campanha, isso significa que entrar na bolha certa é mais eficiente do que tentar romper todas.
Por isso, segmentação e microtargeting são estratégias centrais. É preciso adaptar linguagem, estética e conteúdo para cada público, com mensagens que não só façam sentido — mas que façam sentir.
O desafio do candidato: se posicionar sem ser rejeitado
Muitos candidatos erram ao tentar “agradar a todos” ou, ao contrário, ao adotar uma postura de confronto direto com grupos que pensam diferente.
Compreender o viés da confirmação permite encontrar um meio-termo mais inteligente: posicione-se com firmeza, mas escolha como comunicar sua posição, para que ela tenha mais chance de ser absorvida — e não rejeitada de imediato.
A virada está na emoção
Campanhas que se conectam emocionalmente vencem. Mas a conexão só acontece quando o eleitor sente que está sendo compreendido — e não confrontado.
É por isso que o viés da confirmação deve ser levado em conta desde a definição da mensagem até a produção de conteúdo nas redes sociais.
Mais do que tentar mudar o que o eleitor pensa, é mais eficaz tocar o que ele sente.
Você não precisa convencer todo mundo
O viés da confirmação ensina algo valioso: você não precisa convencer quem pensa diferente. Precisa, antes, reforçar quem já está do seu lado e conquistar os que estão abertos a escutar.
O papel da comunicação política não é disputar argumentos com o eleitor — é oferecer sentido, identidade e emoção.
E isso só se faz com estratégia.