O mundo político parece ainda não ter se atentado para a importância da criação de banco de dados para obtenção de vantagem competitiva em comparação com os adversários, mas para analisarmos detalhadamente o quão importante é de fato, precisamos entender o contexto atual da sociedade.
Vivemos a era digital, as distâncias são praticamente nulas. Com alguns caracteres e um clique, podemos alcançar pessoas em qualquer lugar do planeta. Na política não é diferente, a comunicação passou a ser direta. Não há mais a obrigação de intermediação por parte de um órgão tradicional de mídia para o eleitor cobrar as autoridades constituídas, nem para o político entrar em contato com o eleitor.
A velocidade dos acontecimentos também está diferente. Na era analógica, a informação circulava mais devagar, o tempo que o cidadão estava disposto a esperar para a resolução de um problema era maior, assim como o tempo médio para que uma autoridade fizesse contato com a população. Atualmente, com as informações circulando por milhares de quilômetros em segundos, as demandas se tornaram urgentes, e a necessidade de um contato imediato é gigantesca.
Coleta de dados oficiais
Há vários tipos de banco de dados que podem ser criados para auxiliar tanto mandatos como campanhas, um deles é a coleta de dados oficiais. Coletar dados sociais, econômicos, geográficos das regiões prioritárias de um mandato, dados administrativos da gestão no executivo e de destinação de emendas por parte de parlamentares, monitorar gastos do mandato dos adversários auxiliam na tradução do cenário político do momento.
Após a coleta, é necessário criar de fato o banco de dados. Organizar os dados em planilhas e criar dashboards para fácil visualização, ou a contratação de CRM para gestão dos resultados dos dados são de extrema importância para entender de fato o que aqueles dados representam.
Com os dados compilados e traduzidos, o mandatário poderá utilizá-los como base para elaboração de projetos de lei, elaboração de uma linha de comunicação que mostre as entregas da atual gestão, (no caso do mandatário ser o chefe do executivo ou ser da base aliada no legislativo), ou de críticas, no caso de ser um parlamentar de oposição. Em ocasiões de agendas em determinadas localidades, a compilação de dados possibilita a criação de um discurso adequado, que demonstre conhecimento da situação da população, ajudando a criar ou consolidar uma reputação já criada.
No caso de pré-candidatos ou candidatos, a coleta de dados oficiais e a criação deste banco de dados pode ajudar no mapeamento e na escolha das regiões prioritárias da pré-campanha e da campanha, na criação de conteúdo do tema prioritário durante o período de construção de reputação, o mapeamento das pré-candidaturas e candidaturas adversárias, a elaboração de propostas e programas de governo.
Cadastro de eleitores para mandatários
Criar um cadastro de eleitores é fundamental para facilitar a comunicação política, diminuir o custo para entrar em contato e conseguir manter uma interação constante com este eleitor.
Há várias formas de se criar um banco de dados a partir do cadastro dos eleitores: Criação de abaixo-assinados, abordagem ativa nas redes sociais, cadastramento de pessoas que compareceram a determinados eventos, cadastramento de visitantes do gabinete.
Para políticos com mandato, a criação deste banco de dados tem algumas funções: Criar um grupo de apoiadores, identificar multiplicadores do mandato, criação de uma “contra milícia” digital, ajudar no direcionamento da comunicação do mandato para determinadas regiões, criação de listas de transmissão, prestar contas do mandato, convidar pessoas para eventos e audiências públicas, incluir a sociedade civil na discussão de algum tema relevante, já ter um banco de dados organizado para o próximo pleito eleitoral – ou seja – são inúmeros os benefícios que o banco de dados de eleitores traz para um mandato.
Saindo do campo abstrato, durante um mandato é necessário que o político tenha um grupo de apoiadores para demonstrar respaldo, simpatia, e para contribuir com sugestões ao mandato, tendo os dados destas pessoas já catalogados, este processo se torna mais rápido.
Outra necessidade de um mandato é publicizar as ações para o maior número possível de pessoas do público considerado prioritário, neste caso, a existência de multiplicadores digitais é fundamental, eles ajudam a difundir a informação em uma velocidade maior do que se apenas a própria comunicação do mandatário a divulgasse.
Nesta era digital, e com a constante radicalização da polarização, lidar com haters e fake news são dois desafios que todo mandatário enfrenta. Ter um banco de dados organizado possibilita a organização do que se chama de “contra milícia” digital. Ter um grupo específico de apoiadores e multiplicadores onde a única função é desmentir as fake news, e quando se avaliar necessário, confrontar os haters nas redes sociais.
Uma das obrigações de todo mandatário é publicizar as ações e prestar contas de seu mandato. Ter um banco de dados de eleitores permite que sejam criadas listas de transmissões gerais, e algumas listas segmentadas para que as ações do mandato sejam divulgadas de maneira ampla por parte da equipe de comunicação.
Alguns políticos utilizam a estratégia de mandato participativo, onde levam inúmeras questões para serem discutidas pela população antes de tomar alguma decisão, porém, mesmo aqueles que não utilizam desta estratégia, em alguns momentos, como por exemplo em audiências públicas, precisam da presença de integrantes da sociedade civil no parlamento. Não ter um banco de dados organizado, torna praticamente impossível tanto o mandato participativo, quanto a mobilização de eleitores para discutir presencialmente algum tema relevante.
Trataremos abaixo dos benefícios do banco de dados de eleitores em pré-campanhas e campanhas eleitorais, já ter uma base organizada, poupa recursos (como por exemplo tempo, dinheiro e pessoal), porém o que se vê hoje são inúmeros políticos que já tiveram vários mandatos e nunca se preocuparam em montar esta base, isso sem dúvidas torna a próxima campanha mais custosa.
Cadastro de eleitores para pré-candidatos e candidatos
Depois de passarmos pelas vantagens de um mandatário organizar um banco de dados de eleitores, trataremos da importância para pré-candidatos e candidatos. Segmentação de conteúdos, definição de temas relevantes e regiões prioritárias, criação de listas de transmissão, criação de grupos de apoiadores, multiplicadores e “contra milícia” digital, mapeamento de possíveis votos, auxílio na identificação de voluntários e contratação de pessoal e identificação de doadores, são algumas das vantagens de se ter um banco de dados de eleitor durante a pré-campanha e a campanha.
O segredo do marketing político não é falar com mais pessoas, e sim falar com as pessoas certas – a criação do banco de dados ajuda pré-candidatos e candidatos a identificar este público, quais seus interesses (esta identificação já auxilia na definição do tema e subtema relevante), a região em que este público se encontra (dado que auxilia a definição das regiões prioritárias).
No que tange à criação de grupos de apoiadores, multiplicadores e de “contra milícia” digital, a dinâmica é bem parecida com a de um mandatário – é necessária a demonstração de apoio e de força no período pré-eleitoral e eleitoral, é necessário que a mensagem seja divulgada várias vezes para o público prioritário, e se faz necessário combater notícias falsas e conter haters nas redes sociais – a identificação de pessoas para se fazer parte desses grupos
Outra dinâmica importantíssima do período pré-eleitoral e eleitoral é o mapeamento dos votos por região. Com este mapeamento é possível desenvolver estratégias transmídia de uma maneira assertiva e barata, visto que pesquisas qualitativas e quantitativas, apesar de necessárias, são caras – sendo este monitoramento a partir do banco de dados uma estratégia complementar às pesquisas, reduzido assim os custos do pleito.
Um problema que a maioria das pré-campanhas e campanhas enfrentam é a falta de mão-de-obra qualificada e a falta de recursos financeiros. Ter a base de dados organizada facilita a identificação de possíveis voluntários para a campanha, de possíveis profissionais e também doadores em potencial, o que pode ser determinante para a montagem da equipe, captação de recursos e consequentemente para o sucesso eleitoral.
Erro comum
Um erro comum entre os políticos que já identificaram a necessidade de se ter uma base de dados organizada é acreditar que ela serve apenas para que ele tenha acesso a um maior número de pessoas – este conceito equivocado gera um fenômeno de compra de bases de dados aleatórias, onde aquelas pessoas não possuem nenhuma relação prévia com o político – esta base de dados não produz efeito positivo algum – apenas leva a um gasto desnecessário de recursos e esforços.
Conclusão
Ainda são poucos os políticos que já identificaram os benefícios de se ter um banco de dados organizado e traduzido. Desde o planejamento estratégico até tomada de decisões, o banco de dados é essencial para uma comunicação eficaz com o eleitor.
Investir na criação e utilização eficaz deste recurso pode definir não apenas o sucesso eleitoral, mas também um impacto positivo e duradouro na sociedade.
A era da política baseada em dados está em pleno desenvolvimento, e aqueles que abraçarem esta mudança de maneira mais rápida, terão a oportunidade de criar laços mais fortes com seus eleitores e modelar uma comunicação onde o contato direto e assertivo se torne uma estratégia constante e não apenas nos últimos minutos do período eleitoral, onde o efeito se torna bem menor, e os gastos se tornam exorbitantemente elevados.
Jean Pinheiro
Economista, colunista do Zona Política. Já foi coordenador de dados e coordenador geral de campanhas eleitorais em 4 das 5 regiões do país. Foi assessor parlamentar na Câmara dos Deputados e na Câmara Legislativa do Distrito Federal, atualmente produz conteúdos sobre marketing político, além de prestar consultorias e ministrar treinamentos para equipes de campanhas eleitorais.
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