Como contratar uma pesquisa de opinião pública
Por Matheus Dias
Como contratar uma pesquisa é uma pergunta que sempre alguém me faz.
O eleitor é pragmático. E sempre deposita o seu voto no candidato que, em sua visão, tem mais capacidade de resolver os problemas que o aflige. Portanto, antes de qualquer passo concreto na construção de uma candidatura é necessário conhecer a fundo como pensa, o que deseja, os sonhos, aspirações e medos de cada habitante apto a votar no domicílio eleitoral do candidato.
Nesta linha, uma das bases mais importantes do processo político é um programa de pesquisas robusto. Entretanto, o linguajar técnico de alguns institutos de pesquisa pode dificultar a compreensão do que realmente será executado e entregue.
A seguir, vamos discutir alguns dos pontos mais importantes no processo de contratação de um levantamento quantitativo.
Qual é o momento certo de fazer uma pesquisa?
Saber o momento certo de fazer uma pesquisa de opinião é fundamental. Levantar dados que possibilitem a tomada de decisão estratégica é um elemento decisivo para o sucesso de qualquer projeto político.
Ouça o podcast República Cast #94 sobre o tema e saiba o momento certo de contratar uma pesquisa de opinião:
A conversa inicial
Na conversa inicial, deixa claro quais são os seus objetivos, expetativas e dúvidas na construção do seu projeto político. Esse é o passo inicial de como contratar uma pesquisa.
A partir disso, o diretor do Instituto pode montar um questionário que investigue as questões mais importantes para a delimitação da sua estratégia.
A não ser que você esteja na reta final da campanha, evite ao máximo pesquisas que afiram apenas a intenção de voto, conhecimento e rejeição.
Na fase pré-eleitoral é importante que o questionário seja o mais rico possível. Assim é possível subsidiar a construção do discurso e a estratégia de campanha com base em dados concretos.
Dê preferência para questionários que contemplem avaliações de áreas prioritárias, como saúde e segurança, que meçam a abrangência de veículos de comunicação, importância de apoios etc.
Margem de erro e intervalo de confiança
Margem de erro e intervalo de confiança são dois termos técnicos bastante comuns quando o assunto são as pesquisas de opinião pública.
Das duas, a métrica mais conhecida é a margem de erro, que nada mais é do que a faixa de variação dos resultados da pesquisa. Qualquer valor dentro da margem de erro é estatisticamente possível. (Leia mais sobre o empate técnico aqui).
O segundo parâmetro é o intervalo de confiança. O valor mais comum para o intervalo de confiança para os levantamentos eleitorais é 95%. O seu significado está intimamente ligado à margem de erro da pesquisa.
Um levantamento com 5% de margem de erro e intervalo de confiança de 95% é interpretado da seguinte forma: A cada 100 pesquisas feitas seguindo o mesmo plano amostral, o resultado de 95 delas estará dentro da margem de erro de 5 pontos percentuais.
Pontos importantes para assegurar a qualidade do trabalho
Durante o processo de contratação, investigue como é feita a coleta das entrevistas, quem são os aplicadores qual a experiência da equipe de campo.
Tenha atenção especial ao peso de cada região na pesquisa. Os dados são recentes? Caso seja utilizado os setores censitários do IBGE, vale a pena conferir se não surgiu nenhum grande bairro ou conjunto habitacional nos últimos anos (especialmente Minha Casa Minha Vida).
Por fim, investigue como é feito o controle de qualidade das entrevistas. Os formulários serão em papel ou eletrônicos (tablets)?
Caso sejam de papel, será necessário a coleta de informações pessoais como nome telefone ou endereço. Se forem eletrônicos, será possível realizar a gravação silenciosa das entrevistas e a coleta de coordenadas geográficas.
De maneira geral, a gravação silenciosa permite um melhor controle sobre a qualidade dos dados levantados. Caso tenha opção, opte por essa forma de coleta.
A pesquisa em formulários de papel está obsoleta no mercado. Leia mais sobre o controle de qualidade em pesquisas aqui: Controle de Qualidade de Pesquisa.
A entrega do relatório de pesquisa
Não tenha medo de fazer perguntas durante a apresentação da pesquisa. O responsável por apresentá-la é a pessoa mais capacitada para sanar qualquer dúvida que venha a surgir. Não deixe a oportunidade passar.
Conclusão
Como contratar uma pesquisa é uma dúvida comum em boa parte da classe política. Muitos não entendem os parâmetros e informações técnicas necessárias para a construção de uma boa pesquisa.
O que se busca são dados confiáveis. Os dados balizam a estratégia de campanha ou mandato parlamentar. Sem dados confiáveis a estratégia será um fiasco. Por isso, muito cuidado na hora de realizar pesquisas para o seu projeto político.
Busque um Instituto de confiança e faça pesquisa. A diferença entre um projeto de sucesso e outro que naufraga, é a confluência de dados e informações para a tomada de decisão estratégica.
Quem não tem dados confia apenas no feeling. Seu projeto político é muito importante para ser colocar todas as fichas na mera percepção pessoal sua e de seus assessores mais próximos.
Matheus Dias é economista pela Universidade Federal de Viçosa e fundador do Instituto OPUS. Trabalha com pesquisas eleitorais e de opinião pública desde 2011 em mais de 500 projetos qualitativos e quantitativos.